sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Onde está 2012?

Para todo lugar que olhamos as mensagens de Feliz 2012 aparecem. Mas, onde está 2012? Esta pergunta me conduziu a uma pequena história, um conto de Ano Novo que surgiu em meu coração e que compartilho com vocês.

Ele começa assim:

Caminhando por uma longa estrada, Mestre e discípulo admiram a paisagem. O Mestre segue em silêncio, o discípulo, conversa com seus pensamentos.

A certa altura da estrada, param debaixo de uma grande árvore para descansar e comer algo. Neste momento, sementes da árvore começam a cair. O Mestre pega uma delas em suas mãos, vira-se para o discípulo e diz:

- Feliz Ano Novo!

- Onde está o Ano Novo, Mestre?

- Ele está em minhas mãos.

- Como assim... como pode ser que 365 dias caibam na palma de uma mão?

- Da mesma forma que uma floresta inteira cabe em uma semente. Cada semente produz uma árvore. E cada árvore produz várias sementes, cada uma com o potencial de produzir árvores. Assim, cada semente contém, em si mesma, uma floresta.

- Mas, o Ano Novo é uma semente?

- A Vida nos presenteia com sementes. 2012 é uma semente: dentro dela estão guardadas muitas possibilidades. Cabe a você cuidar para que esta semente cresça e floresça...

O discípulo, então, entendeu a lição.
Antes de se levantarem para seguir viagem, ele pegou várias sementes da grande árvore. E, durante a caminhada que fez ao lado do Mestre, foi entregando para cada pessoa que encontrava no caminho, uma semente. E, ao entregá-la, dizia: “Feliz Ano Novo!”.


Envolvida nesta certeza de que o Ano Novo é uma semente cheia de possibilidades eu desejo que sua semente germine e que você possa colher os frutos mais especiais que a Vida lhe tem reservado.

Com carinho,
Adriana

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Desafio de Natal

        Nestes dias que antecedem o Natal, todos nós estamos envolvidos em conjugar o verbo presentear. Saímos às compras buscando formas de expressar nosso carinho e afeto pelas pessoas que nos são queridas. Mas, como bem disse uma pessoa que atendo, também precisamos nos lembrar do aniversariante do dia. Um místico poeta cristão do século XVII disse: “Nasça Cristo mil vezes em Belém e não em teu coração: estás perdido para o além, nasceste em vão.” (Angelus Silesius).
        A Psicologia nos ensina que o melhor solo para ocorrer o desenvolvimento moral é aquele em que os valores mais nobres do ser humano são colocados em prática e onde existe qualidade nas relações. Isto me levou a propor às pessoas que me procuram no consultório o que chamei de ‘Desafio de Natal’. Acontece da seguinte forma: você deve definir, em seu coração, uma forma de presentear Jesus e, no dia do Natal, colocar sua ideia em prática.
        Assim como acontece com os outros tipos de presentes, são várias as possibilidades de escolha. Listo aqui algumas:
- Dizer palavras carinhosas: um ótimo ‘Desafio de Natal’ para aquelas pessoas que costumam apontar as falhas alheias. Trocar as palavras críticas por elogios suaves e carinhosos pode ser uma bela forma de presentear as pessoas com as quais se convive.
- Manter a tranquilidade: em meio a toda esta agitação de final de ano, que tal colocar em prática o ‘Desafio de Natal’ de manter a paz e a traquilidade? Segundo relatado na Bíblia, Jesus nasceu em uma noite calma – e, certamente, todos nós sabemos o quanto o nosso mundo precisa de paz e mansidão! Este é um presente muito necessário nos dias de hoje.
- Colocar em prática alguma virtude que você considera importante: a lista é grande, com opções de A a Z: alegria, bondade, cuidado... gentileza, honestidade... polidez... zelo. Escolha uma como ‘Desafio de Natal’ e, no dia 25/12 faça o esforço de ser um portador desta virtude. 
- Criar momentos de perdão: a grande dificuldade em perdoar está na crença de que o perdão deve acontecer de forma integral. Mas, e se a gente se permitisse, ao menos neste dia de Natal, abrir espaço para ‘momentos de perdão’? Pode ser algumas horas, uma parte do dia ou ate o dia inteiro – mas será um momento em que deixaremos o perdão fazer parte da nossa vida e intermediar nossas relações. Um belo “Desafio de Natal’!
        Não sei até que ponto os cardiologistas concordam, mas do ponto de vista psicológico, presentear faz bem ao coração. Faz a gente se sentir leve, feliz, satisfeito. E, se você prestar atenção poderá sentir, ao realizar o Desafio de Natal, o abraço do aniversariante lhe agradecendo pelo presente. Neste momento não se surpreenda se você perceber que o maior presenteado é você!
        Feliz Natal! Feliz Dia de Jesus!

(Texto publicado no site da CBN Vitória em 22/12/11)

sábado, 5 de novembro de 2011

Para onde foram as cegonhas? (ou, como tratar sobre o nascimento em pleno século XXI?)

     Houve um tempo, não muito distante, em que as crianças vinham ao mundo carregadas, gentilmente, nos bicos das cegonhas. Por algum motivo que escapa à lógica infantil, as cegonhas nunca eram vistas, mas existiam e cumpriam sua missão. Sua presença ajudava adultos e crianças a enfrentar um desafio que ainda continua bem atual: responder aos questionamentos infantis.

– “De onde vem os bebês?”
– “São as cegonhas que os trazem”
    
      E lá ia a criança sentar-se na varanda e passar longos períodos vigiando o céu em busca de um sinal deste pássaro desconhecido e tão cheio de magia.
    
      O tempo passou, algum vento soprou e as cegonhas desapareceram. Mas as perguntas infantis continuaram bem presentes e, com elas, a dúvida sobre como tratar sobre o tema do nascimento dos bebês em pleno século XXI. Aliás, um tempo no qual até mesmo as formas de concepção ampliaram: bebês de proveta, gravidez assistida, barriga de aluguel, doação de esperma, de óvulo, de embrião... As coisas pareciam mais simples na época das cegonhas!
    
      Responder às perguntas das crianças não é tão difícil quanto parece. Primeiro devemos ter em mente que uma pergunta só é formulada quando a pessoa consegue coordenar informações e sente falta de alguns dados para concluir seu pensamento. Em outras palavras, quando a criança faz uma pergunta , ela já tem alguma hipótese sobre a resposta – somente busca confirmar seu raciocínio.
    
      Outro ponto importante é que o raciocínio muda na medida em que a criança cresce – e a resposta deve estar adequada à sua idade e compreensão. Para as menores (até os 4 anos) mostrar fotos da mãe grávida e dizer que saiu da barriga da mamãe ou, no caso de adoção, dizer que nasceu do coração é uma resposta adequada que costuma ser aceita sem maiores questionamentos.

     Já as crianças entre 6 e 8 anos começam a elaborar seu raciocínio e precisam que lhes seja esclarecido o ‘como’ .Nestas situações, vale a dica: antes de responder, pergunte o que ela acha. Desta forma você saberá qual é a teoria da criança e poderá organizar melhor a informação geral. Isto serve para não ficarmos nos estendendo demais sobre um assunto que não interessa à criança.

     Finalmente, a partir dos 10 anos os detalhes sobre o corpo humano e sobre o ato sexual começam a ser descobertos e a melhor forma é responder às perguntas de forma direta, dando a versão correta dos fatos e esclarecendo sobre precauções e atitudes seguras. Esta postura aberta e franca possibilita que os filhos percebam que podem esclarecer suas dúvidas com seus pais ao invés de buscarem informações com os colegas ou com estranhos.

     Agindo assim, conseguimos responder às perguntas de forma adequada a cada idade e permitimos que as cegonhas continuem aproveitando sua aposentadoria junto com o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, os Príncipes e as Princesas e tantos outros personagens encantados.

 (Artigo publicado no site da CBN Vitória e no Gazeta online em 29 de setembro de 2011)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Reflexões sobre o Dia da Criança

       O Dia das Crianças se aproxima, mas você sabia que, todos os dias, várias crianças ao redor do mundo sentem medo? Na infância o medo é poderoso: paralisa e impede que a criança encontre formas de lidar com o desafio a sua frente – seja ele real ou imaginário. Além disto, todos os dias, inúmeras crianças tem que aprender a lidar com a tristeza. Sentem-se tristes porque pessoas queridas se foram, porque seus sonhos não aconteceram, porque seus presentes não chegaram... E muitas outras vivem intensamente a solidão. Querem um olhar amigo, um carinho sincero, uma palavra de afeto. Buscam por uma mão estendida ou uma frase que ilumine sua incerteza e lhes indique o caminho. Mas não encontram nada disto, e sentem-se sós...
       Como se não fosse suficiente, o cuidado de todas estas crianças, na grande maioria das vezes, é transferido para outrem: “alguém cuide delas por mim!” Mas, crianças não podem ser cuidadas por qualquer um – vocês dirão. Concordo. Elas precisam ser tratadas com respeito e carinho por aqueles que as conhecem e amam – vocês argumentarão. E eu hei de concordar mais uma vez.
       Se concordamos nestes pontos e nos revoltamos com o fato de que o cuidado com as crianças muitas vezes é terceirizado – por que fazemos isto com nossa criança interior? Dentro de nós habita um ser que sente medo, que enfrenta tristezas, que vive a solidão – e nós cobramos dos outros que se responsabilizem por cuidar disto por nós. Colocamos a nossa felicidade nas mãos de terceiros e reclamamos quando eles não realizam nossos desejos. Deixamos nossa criança interior na porta do outro e cobramos que cuide dela como nós faríamos. Mas, vejam bem: somos nós que devemos cuidar desta criança. Ela não precisa nem merece ficar na soleira da porta. A casa dela é dentro de nós e precisamos cuidar muito bem deste lar.
       Por isto, deixo aqui uma sugestão para este Dia das Crianças: cuide de sua criança interior com carinho. Ela precisa de palavras de afeto para sentir menos medo, de momentos de alegria que façam a tristeza passar, de interação com seus entes queridos para saber que não está sozinha. Abra a porta do seu coração e deixe sua criança voltar para casa.
       Se você não tem filhos, divirta-se com sua criança interior. Oriente-a, cuide dela e deixe que ela compartilhe momentos de alegria com pessoas queridas. Se você tem filhos, divirta-se com eles sabendo que a sua criança interior adora este tipo de convivência. Criança gosta de criança. E todos merecem viver um Feliz Dia das Crianças – inclusive você!

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Novo Medicamento

Quanta dificuldade para os pais de hoje conseguir conciliar o trabalho com a tarefa de ser um pai afetuoso, participativo e presente na vida dos filhos!
Pensando nisto, nós dos Laboratórios Müller - aquele da carinha feliz! - desenvolvemos um novo medicamento para auxiliar os pais modernos a melhor desempenhar este papel tão importante para a humanidade.

Laboratórios MJller

AFETOCITINA PATERNA
Comprimidos mastigáveis

COMPOSIÇÃO:
Cada comprimido mastigável contém:
Amor ............................................................. Sempre
Veículo q.s.p. (quantidade suficiente para) ...... 70 muito
Paciência, Alegria, Cuidado, Sabedoria, Flexibilidade, Compreensão, Autoridade, Sentimentos positivos, Esperança, Atenção,Persistência, Criatividade, Pureza.

INFORMAÇÕES:
A Afetocitina Paterna pode ser ministrada a partir da constatação da gravidez.
Esse medicamento, apesar de indicado para os pais, pode ser mantido ao alcance das crianças.

INDICAÇÕES:
Este medicamento é indicado em todos os casos nos quais os homens se tornam pais, para estimular a interação com os filhos, a presença paterna em suas vidas, o fortalecimento de vínculos estáveis e a satisfação em ser pai.

“Especialistas advertem: ser pai é importante para o desenvolvimento infantil” (Hennigen, I, 2010).

segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ética para todos

     Acabo de ler o último livro do Yves de La Taille: Ética para meus pais. Um livro de fácil leitura já que a narrativa é feita do ponto de vista de um menino pequeno, de idade indefinida, membro de uma família que bem poderia ser a minha ou a sua (pai, mãe, uma irmã de 16 anos, avô, avó...). Uma leitura fácil, porém profunda justamente porque lança luz sobre nossas atitudes mais costumeiras nos alertando para o tipo de exemplo que passamos para as crianças ao nosso redor. Porque a educação em valores acontece muito mais por meio de exemplos do que por belos discursos ou boas intenções. E, neste ponto, o livro nos serve de espelho e de alerta sobre as nossas ações diárias nas filas, no trânsito, na hora das refeições, nos encontros familiares, nas viagens, no uso do celular, entre outras situações cotidianas.
     Um convite para que pensemos mais sobre o nosso papel de educadores, sobre o quanto de coerência existe entre o que pensamos e como agimos, sobre quais valores estamos enfatizando em nossos relacionamentos - valores morais (justiça, generosidade, dignidade, respeito...) ou não-morais (poder, fama, dinheiro, beleza...).
     Certa vez uma propaganda nos fazia o seguinte questionamento: "Que mundo queremos para nossos filhos? E que filhos queremos para nosso mundo?" Certamente uma pergunta que merece reflexão e, principalmente, ação. O livro 'Ética para meus pais' pode clarear um pouco este caminho de busca de um mundo em que a ética seja para todos.

sábado, 30 de abril de 2011

Será que precisamos de uma lei antibullying?

Para responder a esta questão, convido o leitor para uma pequena viagem ao início dos anos 80, na Noruega. Foi lá que o psicólogo Dan Olweus cunhou o termo bullying, referindo-se às humilhações violentadoras recorrentes ocorridas no espaço escolar. Tais atitudes já aconteciam há tempos, dentro e fora dos muros das escolas – e assim continua até os dias atuais. A diferença é que elas passaram a ter nome e a ser motivo de estudos. Após anos de estudos e baseado em milhares de entrevistas, Olweus propôs, não uma legislação antibullying, mas uma intervenção antibullying, envolvendo a sociedade de forma ampla e buscando alcançar dois objetivos básicos: desfazer mitos e ideias erradas sobre o bullying e promover apoio e proteção às vítimas.
Assim, retomo aqui a pergunta inicial: Precisamos de uma lei para isso? As leis já existem, afinal as agressões que ocorrem nas escolas também ocorrem fora dela: agressão física, desacato, assédio moral, assédio sexual, preconceito, roubo, entre outras. As leis existem e são importantes para preservar o senso de obrigatoriedade, as noções de igualdade e equidade, o valor da justiça. Sem dúvida, em tempos de analfabetismo moral, em que as pessoas não sabem mais quais valores regem suas vidas ou a sociedade, é fundamental que as leis nos guiem. Mas elas regem as situações de fora e são aplicáveis depois que o ato foi cometido. Nas situações como a de Realengo precisamos saber antecipar. Cada um de nós precisa parar e pensar: Será que temos que tratar as coisas depois que elas acontecem ou podemos encontrar forma de tratá-las antes que aconteçam? Qual exemplo de vida eu tenho sido para todas as crianças com as quais convivo? É importante evitar que o mal entre nas escolas, nas igrejas, nos ambientes sociais, mas será que conseguiremos pensar formas de evitar que o mal entre nas pessoas? Se a gente não parar agora para pensar nesses pontos, quando vamos pensar? A situação de Realengo provocou uma grande mancha na nossa alma nacional e causou muita dor. Precisamos refletir sobre as coisas que realmente são importantes: como fazer para mudar este cenário? Contribuo aqui com três atitudes. Obviamente existem outras mais, por isso, convido cada leitor a fazer a sua reflexão.
A primeira atitude que proponho é aprender a ver. Sabemos ver os nossos filhos? Sabemos ver nossos alunos, nossas crianças, nossos adolescentes? Ou apenas olhamos. Olhamos como quem passa os olhos vagos, desinteressados, desinformados – simplesmente observando.  A gente precisa aprender a ver – ver os comportamentos, ver os olhos, a entender o que estamos vendo. Sem olhos de ver, tudo passará despercebido – o bom e o ruim, tudo.
A segunda atitude é aprender a dialogar. Precisamos urgentemente aprender a conjugar simultaneamente três verbos: falar, ouvir e acordar. Falar de forma clara aquilo que pensamos, ouvir as opiniões e as reflexões das outras pessoas e entrar em acordos, transformando as diferenças em soluções conjuntas. Sem o diálogo há somente imposição, visão unilateral, desrespeito ao ponto de vista do outro.
A terceira atitude é proteger nossos filhos. É função dos adultos proteger as crianças e garantir que elas convivam em ambientes que estimulem relações sociais de qualidade. Isso implica, necessariamente, reforçar nas crianças o valor do respeito, da dignidade, da justiça, da generosidade, da vida, do outro. Isso precisa ser ensinado, resgatado, fortalecido no nosso dia a dia. Sem valores perdemos o norte, não sabemos para onde ir. Precisamos ajudar nossas crianças a construírem suas identidades baseadas em valores morais, caso contrário a lista de Realengo poderá continuar aumentando.
Está na hora de acordar. Que essa dor que todos sofremos enquanto brasileiros possa servir para que a gente reflita, busque soluções, se comprometa, perceba que a resposta está na atitude de cada um de nós. Nossa sociedade não vive sem leis – elas são necessárias e importantes. Porém, neste caso, não precisamos de mais leis – precisamos de mais humanidade.