domingo, 26 de setembro de 2010

Perdoar (Per-donare)

De que são feitos os encontros humanos? De doação. Quando nos encontramos com o outro – conhecido ou não – sempre doamos algo de nós e recebemos algo do outro. Um belo conto oriental nos revela a magia desses encontros: quando, caminhando em direções opostas, duas pessoas que se encontram no caminho da vida trocam o pão que cada uma traz consigo, cada uma, ao seguir de volta o seu caminho, continua levando um pão. Mas, se duas pessoas, caminhando em direções opostas, se encontram no meio de sua caminhada e, nesse encontro, trocam idéias, ao seguirem de volta o seu caminho, cada uma delas irá levar consigo duas idéias. Essa é a magia dos encontros humanos, sempre doamos algo de nós. Podem ser coisas materiais, ou pensamentos, ou sentimentos, tanto faz. Nós, seres humanos fomos feitos para doar.
Mas, eis que algumas vezes na vida, nos deparamos com uma situação complicada. Por algum motivo qualquer – forte ou trivial – impedimos esse fluir de doação. Quando o outro nos fere, ou nos magoa, é como se o nosso coração – ou nossa alma – deixasse de se conectar com o outro por meio da doação. Nos fechamos em nós mesmos, doídos pela mágoa, aprisionados pelo ressentimento. Fechamos a possibilidade de contato com o outro e, com isso, de doação, de entrega, de construção conjunta.  
A dor da decisão de se afastar só pode ser aliviada por meio da retomada da nossa natureza humana: o retorno da nossa habilidade de nos encontrar com o outro em doação. Para isso precisamos desculpar o outro. Mas, veja a armadilha das palavras: desculpar significa tirar a culpa do outro. David Bohm nos alerta para o uso que fazemos das palavras – e Morin nos convida a sempre termos claro quais palavras iremos usar. Desculpar o outro significa retirar do nosso caminho a mágoa que nos impedia voltar a entrar em contato com ele. Mas, essa mesma ação de retirar um ressentimento, também pode ser realizada por meio de outra palavra: perdoar – mágica palavra que liberta.
Perdoar vem do latim, per-donare, e significa ‘para doar’. ‘Para doar’ amor, é preciso perdoar o que faz doer. ‘Per-donare’ atenção, é necessário perdoar as ofensas. ‘Para doar’ amizade, é urgente perdoar os desencontros: é preciso reencontrar o amigo perdido e voltar a trocar com ele pensamentos, sentimentos, vida!
Que o perdão nos ajude a voltar a caminhar em direção ao outro – para que possamos nos encontrar e retomar nossa habilidade de doar. Que o perdão nos liberte da prisão da mágoa e nos possibilite voltar a ver o outro. Para quê? Per-donare, a cada encontro, aquilo que temos de melhor.

(A semente desse texto foi doada pelo amigo Zé Ricardo. Em sua homenagem, ela faz parte desse Jardim).

sábado, 25 de setembro de 2010

Mensagem Inicial para os meus amigos

Minha primeira mensagem é uma ode à amizade. Para isso, faço minha as palavras de Vinícius de Moraes:

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos. Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles. A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor, eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade. E eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos! Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos e o quanto minha vida depende de suas existências … A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem. Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.
Mas, porque não os procuro com assiduidade, não posso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar. Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não tem noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente, construí, e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado. Se todos eles morrerem, eu desabo! Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles. E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles. Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos, cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer… Se alguma coisa me consome e me envelhece é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meus amigos, e, principalmente, os que só desconfiam – ou talvez nunca vão saber – que são meus amigos!  
Vinicius de Moraes

É primavera!

Decidi dar início ao meu blog assim que a primavera começasse. Por puro simbolismo mesmo. 
Sejam todos bem vindos a esse espaço virtual onde pretendo compartilhar ideias - minhas e de outras pessoas - e promover reflexões. 
Pensem nesse espaço como um jardim: um lugar agradável, onde podemos passear apreciando a vista, sentindo o agradável perfume de uma flor, nos recostando em uma árvore, deixando a brisa nos acariciar e o sol nos envolver... 
Como nos ensina Rubem Alves:

Todo jardim começa com um sonho de amor. Antes que qualquer árvore seja plantada, ou qualquer lago seja construído é preciso que as árvores e os lagos tenham nascido dentro da alma. Quem não tem jardim por dentro, não planta jardim por fora. E nem passeia neles.
A primavera permitiu que esse jardim brotasse da minha alma. Bem vindo a esse cantinho de paz!