segunda-feira, 25 de outubro de 2010

De que matéria-prima são feitos os vencedores?

  
    Que bonito é poder ver um vencedor subir no pódio e receber sua medalha. Mas, engana-se quem pensa que tal feito se resume ao momento da disputa em si. Todos os atletas sabem que as grandes vitórias começam muito antes e envolvem treino, disciplina, perseverança e muita determinação. Precisamos de um pouco dessa matéria-prima de que são feitos os vencedores. Nós precisamos urgentemente disso!
    Nossas vidas são desafios diários que precisamos vencer, mas será que estamos nos preparando para enfrentá-los? Não existe vitória sem suor, crescimento sem esforço, resultado sem dedicação. E para tudo isso é fundamental um projeto de vida: algo que oriente nossos passos em direção à superação de nós mesmos. É assim que pensam os vencedores: seu maior desafio é vencer a si mesmos, buscar a excelência, aperfeiçoar suas próprias técnicas para alcançar objetivos cada vez maiores. Precisamos da matéria-prima de que são feitos os vencedores. Nossa sociedade precisa urgentemente disso!
    Nossas escolas precisam de disciplina – não aquela autoritária que desrespeita o próximo, mas aquela dos atletas que buscam vencer e se aplicam com amor àquilo que acreditam. Nossos hospitais precisam de estrutura, assim como os atletas precisam de condições para desempenhar suas tarefas diárias. Nossas ruas precisam de mais segurança e menos drogas – todo atleta sabe da máxima ‘mente sã em corpo são’ e busca alcançar o melhor de si cuidando de seu corpo e de sua mente. Nossas famílias precisam de paz – aquela mesma que inunda a alma de um campeão quando ele reconhece que fez a sua parte. Nossa sociedade precisa aprender a vibrar porque alcançou seu objetivo - não um objetivo individualista, mas um que seja de todos. Um vencedor sabe que sua vitória teve a colaboração de muitos e suas lágrimas quando vê a bandeira sendo hasteada é a prova de que ele, naquele momento, representa uma nação.
    Precisamos da matéria-prima de que são feitos os vencedores. Você, eu, todos nós. Para, como bem nos ensinou Artur da Távola, aceitar o desafio maior que reside na palavra vencer: Vem-ser! Vem-ser vitorioso. Vem-ser cidadão. Vem-ser família. Vem-ser modelo. Vem-ser melhor!
   E que a singela mensagem de uma vencedora possa ecoar em nossa alma e em nosso coração, nos indicando o caminho: “Sin bora,chega de moleza,hj começo os treinos para a temporada 2011.esse ano foi tuuuudo bem bom com minhas férias prolongadas depois de 15 anos sem parar.alegria!!saudades dos treinos e vai ser muuito bom voltar”. Neymara Carvalho, sete vezes campeã brasileira e pentacampeã mundial de bodyboard. Em 25/10/2010 – meses antes de 2011 sequer ter começado.

Inegavelmente, precisamos da matéria-prima de que são feitos os vencedores!

(Neymara Carvalho é uma amiga. Recebi esse comentário dela hoje à tarde e me emocionei com sua vibração. Em homenagem a ela semeei esse texto no Jardim. )

sábado, 16 de outubro de 2010

Homenagem aos mineiros do Chile

Perséfone, filha de Zeus e da deusa Deméter, possuía uma beleza estonteante e era cortejada por muitos deuses. Porém um dia, enquanto colhia flores, foi raptada por Hades, o deus do mundo subterrâneo, que a levou para morar com ele em seu reino. Lá, Perséfone se tornou rainha, mas sentia falta de sua mãe. Deméter, a deusa da terra cultivada, das colheitas e das estações do ano, percebendo que sua filha havia sumido, partiu em sua busca. Ao fazer isso, se descuidou de suas tarefas e a terra tornou-se árida, sem vida e houve escassez de alimentos. A tristeza se espalhou até que, finalmente, Deméter descobriu que sua filha estava presa no mundo subterrâneo e faz um acordo com Hades: Perséfone poderia vir à superfície para ficar com seus pais durante 6 meses e, nos outros, voltaria para o interior da terra. E assim aconteceu.

Essa foi a forma que os gregos encontraram para explicar os ciclos das colheitas: quando Perséfone está no mundo subterrâneo, Deméter se entristece e nada produz. Mas, quando sua filha reaparece, a deusa mãe se alegra e gera frutos em abundância. Um belo mito grego, tão velho e tão novo quanto cada estação do ano. Tão antigo e tão recente quanto toda primavera.

Tão atual quanto esse ano: 2010. Também na primavera...
Quinta-feira, dia 05 de agosto. O desabamento em uma mina no Chile bloqueia a passagem que possibilitaria verificar se os mineiros que lá trabalhavam haviam sobrevivido. Perséfone é raptada por Hades.
Domingo, dia 22 de agosto. Uma sonda encontra o local onde os 33 mineiros se abrigaram e descobre-se que todos estavam vivos. Deméter descobre onde sua filha está.
Começa o trabalho de resgate. Deméter vai à busca de sua filha.
Terça-feira, dia 12 de outubro, 23h08. O paramédico Manuel González entra na sonda Fênix e, finalmente, se encontra com o grupo de mineiros. Deméter se encontra com Perséfone.
Quarta-feira, dia 13 de outubro, 0h10. O primeiro mineiro chega à superfície da terra e é recebido por sua família. O mesmo ritual se repete com todos os 33 mineiros. Perséfone volta à superfície. A alegria volta a reinar e as lágrimas molham a terra fecunda. Alguns se ajoelham em oração, outros gritam, todos se emocionam: a vida está de volta. Perséfone renasceu!

Todos os anos, a primavera vem com a mensagem do renascimento. Perséfone volta, Deméter se alegra e as sementes brotam. Mas, nesse ano de 2010, a primavera fez homens brotarem da terra. Tal qual sementes cheias de vida, homens renasceram no acampamento Esperança, em plena primavera. Que todos nós possamos nos lembrar do que o ser humano é capaz de fazer quando se une em prol de um bem comum: somos capazes de irmos às profundezas da terra para fazer com que homens voltem a estar mais perto do céu. E a estar mais perto dos seus. 

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Presente de dia das crianças

   Presentear faz bem ao coração. Não sei até que ponto os cardiologistas concordam com essa afirmação, mas do ponto de vista psicológico, ela é verdadeira. O ato de presentear alguém começa muito antes da entrega efetiva do presente e envolve emoções distintas. Segundo Buda: "Antes de dar, o coração se alegra; durante o ato de dar, ele se purifica; e, depois de dar, ele se sente satisfeito". Alegria, purificação e satisfação – tem remédio melhor para o coração? Presentes simbolizam carinho, atenção. Significam: "eu me lembrei de você". E quem não gosta de ser lembrado? 
      Em se tratando de presente para o dia das crianças, um cuidado deve ser tomado: diferenciar o valor financeiro do valor emocional. De forma alguma podemos confundir esses dois aspectos, senão seremos vítimas (e nossos filhos também) do consumismo exagerado e sem limites. De que adianta um pai (ou uma mãe) ausente da rotina diária dos filhos, que não vivencia as descobertas, não se emociona com os momentos singelos e não comemora as vitórias inerentes ao crescimento e amadurecimento das crianças, entregar-lhes um presente super caro? Qual significado terá, para os filhos, a relação que eles estabelecem com seus pais? Por isso é importante que nossas crianças (o que inclui a criança dentro de nós!) possam diferenciar um presente caro de um presente oferecido com amor, carinho e que tenha um real significado na vida dela. O valor de um presente vai além do seu custo financeiro. Quanto vale um abraço amigo? Um colo de mãe? Um elogio de pai? Um sorriso aberto e sincero? Precisamos aprender a resgatar a essência do verbo presentear. Aquela essência que faz bem ao coração.
   As coisas passam: bolas furam, pipas se rasgam, bonecas perdem braços, panelinhas quebram... Mas as recordações das partidas de futebol juntos, das manobras das pipas no ar, dos chás de bonecas com aquele bolo especial da mamãe, dos risos e carinhos nos momentos compartilhados, isso fica sempre presente. O essencial permanece. E, por isso, se chama presente - porque nunca vira passado, nunca deixa de ser... 
   Que nesse dia das crianças você possa conjugar o verbo presentear em toda a sua grandeza. E que isso fique registrado no Livro da Vida como um belo presente para ser lembrado no futuro. 
   Feliz dia das crianças - inclusive para aquela que vive em você!



sexta-feira, 1 de outubro de 2010

A porta de emergência

Escrevi esse artigo como resposta à pergunta "Como se proteger dos crimes digitais?". A minha preocupação foi com relação aos filhos e a como os pais podem ajudar nesse contexto. O artigo foi publicado na  seção Ponto de Vista do Jornal A Gazeta, em 08/08/2010. Espero que gostem!


Uma pesquisa realizada depois dos atentados de 11 de setembro de 2001 mostrou que a maioria das pessoas que estava nos prédios na hora do acidente e conseguiu se salvar tinha um ponto em comum: elas sabiam onde estavam as saídas de emergência dos prédios e o que elas deveriam fazer. Como conseguiram isso? Se informando. 

Com os perigos na internet não é diferente: a informação é a ferramenta fundamental para sabermos nos proteger. No trabalho, com os amigos, na escola, a informação sobre quais cuidados devemos tomar deve ser compartilhada para que todos saibamos como ficar longe do perigo ou, se for necessário, onde está a saída de emergência. 
Em casa, o espaço de diálogo entre pais e filhos deve ser estimulado. Nele cada um pode expor suas ideias e ouvir o ponto de vista do outro com o objetivo de chegar a um acordo sobre o que deve ou não ser feito. Dessa forma, mais do que proibir, os pais tem a chance de explicar os motivos de suas ações e avaliar a maturidade dos filhos que se revela nos argumentos que eles usam para defender seus pontos de vista. 

De forma geral, devemos ter em mente que nossa conduta na internet deve ser a mesma que temos no nosso dia-a-dia. Os valores morais que orientam nossas ações não podem se alterar de acordo com a circunstância ou com o ambiente em que estamos. Eles devem ser permanentes, constantes, estáveis. Mesmo em atividades aparentemente tão simples e triviais quanto teclar, o que deve nos orientar são os valores que aprendemos em casa, com nossa família: respeitar o outro e se fazer respeitar, saber que os limites existem e são necessários, ter a noção de certo e errado, de direito e deveres, ser responsável por nossas ações, não conversar nem passar informações para estranhos, comunicar aos pais onde vão, com quem vão e para fazer o quê... 

O mundo real e o mundo virtual não diferem em relação a esses temas. Se cabe aos pais cuidar, proteger e orientar seus filhos, o diálogo é a ferramenta mais adequada para trazer esses assuntos à luz e mostrar aos filhos que o fato de eles terem mais habilidade no uso da tecnologia não os torna mais maduros para entender e saber lidar com as relações humanas, sejam elas reais ou virtuais. 

Os adolescentes, por sua imaturidade, ainda não sabem avaliar de forma adequada as conseqüências de suas ações. É tarefa dos pais alertá-los, orientá-los, intervir para que suas atitudes não provoquem mais feridas do que crescimento. Assim como é tarefa minha, sua, de cada amigo, de cada educador, de cada cidadão, compartilhar informações que ajudem e que protejam a integridade do outro. Quanto mais pessoas souberem onde está a porta de emergência e como fazer para chegar lá, menos chances teremos de sermos pegos de surpresa e sairmos feridos.