sábado, 5 de novembro de 2011

Para onde foram as cegonhas? (ou, como tratar sobre o nascimento em pleno século XXI?)

     Houve um tempo, não muito distante, em que as crianças vinham ao mundo carregadas, gentilmente, nos bicos das cegonhas. Por algum motivo que escapa à lógica infantil, as cegonhas nunca eram vistas, mas existiam e cumpriam sua missão. Sua presença ajudava adultos e crianças a enfrentar um desafio que ainda continua bem atual: responder aos questionamentos infantis.

– “De onde vem os bebês?”
– “São as cegonhas que os trazem”
    
      E lá ia a criança sentar-se na varanda e passar longos períodos vigiando o céu em busca de um sinal deste pássaro desconhecido e tão cheio de magia.
    
      O tempo passou, algum vento soprou e as cegonhas desapareceram. Mas as perguntas infantis continuaram bem presentes e, com elas, a dúvida sobre como tratar sobre o tema do nascimento dos bebês em pleno século XXI. Aliás, um tempo no qual até mesmo as formas de concepção ampliaram: bebês de proveta, gravidez assistida, barriga de aluguel, doação de esperma, de óvulo, de embrião... As coisas pareciam mais simples na época das cegonhas!
    
      Responder às perguntas das crianças não é tão difícil quanto parece. Primeiro devemos ter em mente que uma pergunta só é formulada quando a pessoa consegue coordenar informações e sente falta de alguns dados para concluir seu pensamento. Em outras palavras, quando a criança faz uma pergunta , ela já tem alguma hipótese sobre a resposta – somente busca confirmar seu raciocínio.
    
      Outro ponto importante é que o raciocínio muda na medida em que a criança cresce – e a resposta deve estar adequada à sua idade e compreensão. Para as menores (até os 4 anos) mostrar fotos da mãe grávida e dizer que saiu da barriga da mamãe ou, no caso de adoção, dizer que nasceu do coração é uma resposta adequada que costuma ser aceita sem maiores questionamentos.

     Já as crianças entre 6 e 8 anos começam a elaborar seu raciocínio e precisam que lhes seja esclarecido o ‘como’ .Nestas situações, vale a dica: antes de responder, pergunte o que ela acha. Desta forma você saberá qual é a teoria da criança e poderá organizar melhor a informação geral. Isto serve para não ficarmos nos estendendo demais sobre um assunto que não interessa à criança.

     Finalmente, a partir dos 10 anos os detalhes sobre o corpo humano e sobre o ato sexual começam a ser descobertos e a melhor forma é responder às perguntas de forma direta, dando a versão correta dos fatos e esclarecendo sobre precauções e atitudes seguras. Esta postura aberta e franca possibilita que os filhos percebam que podem esclarecer suas dúvidas com seus pais ao invés de buscarem informações com os colegas ou com estranhos.

     Agindo assim, conseguimos responder às perguntas de forma adequada a cada idade e permitimos que as cegonhas continuem aproveitando sua aposentadoria junto com o Papai Noel, o coelhinho da Páscoa, os Príncipes e as Princesas e tantos outros personagens encantados.

 (Artigo publicado no site da CBN Vitória e no Gazeta online em 29 de setembro de 2011)