terça-feira, 2 de novembro de 2010

Com o tempo melhora?


Hoje é dia de Finados. Conversei com Thelma Rocha e os ouvintes da Rádio Globo sobre perdas e, durante a conversa, me lembrei desse texto escrito por Maria Marta Pinto Ramos para seu filho Matheus. Resolvi compartilhá-lo aqui, afinal vida e morte convivem em todo Jardim...

"Muita gente, depois de perder alguém querido, escuta, dos outros, frases do tipo:
O tempo cura todas as feridas.
Com o tempo a dor diminui.
O tempo faz a gente esquecer.
Eu também escutei. E, mesmo hoje, já passados nove anos que meu filho morreu, eu não sei se essas frases são verdadeiras.
Certa vez, observando pessoas que, por algum motivo, perderam uma das pernas (ou mesmo as duas), percebi como elas faziam com as muletas.
No começo as muletas machucam, incomodam, ferem as mãos, as axilas. É ruim andar com elas, desequilibram. Elas obrigam quem as usa a inventar um novo passo, um novo jeito de caminhar, dão um ritmo diferente.
As muletas nunca lhes devolverão a perna perdida, mas aos poucos as pessoas vão se adaptar a elas. As muletas vão se tornando parte das pessoas e possibilitam que elas continuem a se locomover e a viver com dignidade.
Com certeza seria muito melhor ter as pernas, mas é preferível usar as muletas do que ficar parado.
Eu penso que, quando a gente perde alguém querido, a vida nos possibilita usar muletas.
Nem de longe essas muletas nos trarão de volta o que perdemos, mas nos possibilitarão continuar nossa caminhada. Certamente serão passos diferentes, outro tipo de equilíbrio e de valorização dos acontecimentos cotidianos, mas daremos conta de seguir em frente, com firmeza e segurança.
Penso que nem mil anos nos fariam esquecer aqueles que amamos muito, ou farão desaparecer a dor e a saudade que sentimos, mas a dor e a saudade poderão se tornar nossas muletas.
No início será mais difícil. Seremos muito machucados por elas, mas com o tempo nos adaptaremos a esse novo modo de continuar a vida e, por mais absurdo que possa parecer, ainda teremos a possibilidade de sermos felizes".

Já que a morte faz parte da vida e é a única certeza que temos, que possamos aprender com ela duas lições importantes: primeiro, a não deixar para depois aquele abraço, aquele carinho, aquele pedido de desculpas, aquele agradecimento... Como diz a música: "é preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã".
E, para aqueles que já viveram essa perda, aprender a seguir em frente, alegrando-se com as boas lembranças que ficaram e honrando a vida de quem foi (e continua sendo) tão especial para nós. 

(Em homenagem à minha filha Priscila, plantei uma árvore, escrevi uma música e falo sobre esse assunto... É assim que a mantenho presente na minha vida. Uma terna, eterna presença em meu Jardim!)